Heráclito de Éfeso

25/10/2011 14:28

Heráclito, autor do livro Sobre a natureza, do qual hoje apenas temos fragmentos, viveu nos séculos VI e V a.C. em Éfeso. Ele era denominado o obscuro,  pois escrevia aforismas num estilo que limitava a sua compreensão ao vulgo. Segundo ele, tudo muda (panta rhei), nada permanece como é. Em um de seus famosos fragmentos Heráclito diz: “Nós descemos e não descemos pelo mesmo rio, nós próprios somos e não somos.” (Heráclito, fr. 126 Diez-Krans[1] In: REALE, G. & ANTISERI, D. História da filosofia. V.1, São Paulo: Paulus, 1997, p.23). Com isso ele não se limita a dizer que nós sempre banhamos em outras águas que vêm, mas também que nós não somos o que éramos.  Esse devir, ou vir-a-ser, não é para ele sinal de instabilidade da existência, mas é a própria existência, pois para ele “o que é oposição se concilia e das coisas diferente nasce a mais bela harmonia, e tudo é gerado por via de contraste” (Heráclito, fr. 126 Diez-Krans In: REALE, G. & ANTISERI, D. História da filosofia. V.1, São Paulo: Paulus, 1997, p.52). Imaginemos que não existisse guerra, também não existiria o conceito de paz, se não existisse o frio também não existiria o calor, se não existisse o úmido também não existiria o seco, se não existisse a fome também não existiria a saciedade. Esse conceito nos remete ao dinamismo da existência, àquilo que impelo o existir: o frio se torna morno e depois quente, o quente se torna frio depois morno, a fome impele à saciedade e assim por diante. Para Heráclito o fogo reflete essa harmonia dos contrários, está presente na natureza de todas as coisas e as governa na sua transformação.  Heráclito procura elementos de busca da verdade, e alerta para o perigo de se basear nos sentidos nessa busca, o que poderia fazer com que o ser humano se prendesse nas aparências, o que geralmente fazem aqueles que se baseiam na doxa (opinião). Cada um de seus fragmentos geraram diversas discussões, há filósofos como Aristóteles (na Metafísica, Livro IV,5) que levaram ao extremo a idéia da luta dos contrários dizendo que Heráclito negava a possibilidade de se alcançar a verdade, dizendo que daquilo que muda não se pode dizer nada de verdadeiro, contudo, os diversos fragmentos de Heráclito (Coleção Os Pensadores, Os Pré-socráticos, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição, vol.I, agosto 1973) nos remetem a reconhecer que esse dinamismo da existência implica na harmonia do vir-a-ser, e mais ainda, no sentido que tudo toma quando se percebe que a verdade não é um destino final (imutável), mas um caminho a ser percorrido.