O berço da Filosofia

08/04/2011 14:00

Antes de mais nada, é preciso salientar que estamos falando de uma época na Grécia há aproximadamente dois mil e setecentos anos atrás. Só para se ter uma idéia, os grandes avanços tecnológicos, sem os quais hoje achamos quase impossível viver, só ocorreram no século passado. Dito isso, poderemos compreender o que a Filosofia significou para aquele povo.

Aphrodite dite "Vénus d'Arles"
Oeuvre romaine de l'époque de l'empereur Auguste (fin du Ier siècle av. J.-C.)
© R.M.N./H. Lewandowski
https://www.louvre.fr/llv/oeuvres
Acesso: 08/04/2011

Naquela época ainda não havia uma religião formada entre os gregos com fundamentação sistemática como entre os judeus. Os gregos tinham religiosidade sim, mas não uma religião. A crença mais difundida era a do politeísmo, ou seja, a crença na existência de diversos deuses. Entre os escritos que fazem referência a esses deuses temos os de dois grandes poetas da época: Hesíodo, que escreveu a Teogonia (isto é origem dos deuses) e Os trabalhos e os dias; e Homero que escreveu Odisséia e a Ilíada.

Entre os diversos acontecimentos descritos nesses poemas e na própria transmissão oral dos mitos, temos algumas crenças que diferem muito das crenças atuais. Por exemplo, os deuses eram o todo o tempo antropomorfizados (ou seja, descritos com características humanas), tinham raiva, inveja e disputavam entre si, o que gerava uma grande confusão. Imagine que alguém sacrificasse um boi a Ares (Deus da guerra), isso poderia despertar a ira de outros deuses, o que acabaria provocando a guerra. Os deuses, com o domínio romano, posteriormente foram renomeados, mas permaneceram com as referências anteriores, por exemplo, Zeus deus dos deuses passou a se chamar Júpiter, Afrodite deusa do amor passou a se chamar Vênus e assim por diante. Também havia o relato da existência dos semideuses como Aquiles, Hércules, Teseu, Perseu e etc. Em suma, os semideuses eram os filhos de um deus ou uma deusa com um ser humano e, por isso, possuíam características que os colocavam acima dos outros seres humanos, e eram descritos geralmente como os heróis gregos. Também havia a descrição de diversos outros seres míticos como as ninfas, as musas, as quimeras, ciclopes, esfinges etc. com características fantásticas. Outra curiosidade está alguns termos que temos em nosso uso comum com outros sentidos: inferno para os gregos era o lugar governado por Hades (ou Plutão para os romanos), e não se restringia aos “pecadores”, mas era o destino de todos o mortos; demônio, ou daimon, era como um gênio inspirador, não necessariamente mau.

Não daria conta de descrever em poucas palavras a riqueza de detalhes da cultura grega, mas essa pequena abordagem era só para dizer que tudo o que acontecia tinha uma explicação mítica e, mesmo que limitada, era muito mais do que se conformar com os acontecimentos sem buscar uma explicação. Por isso, é nesse berço que a Filosofia nasce e se desenvolve.